domingo, 7 de outubro de 2012

GRANDES ENCONTROS POUCO PROVÁVEIS

Dois filmaços em cartaz. Que falam do mesmo tema, de modos diferentes - os encontros inesperados da vida. Diferentemente do comportamento de adolescentes (e alguns adultos, infelizmente), que vivem em bandos iguais, os grandes encontros da vida ocorrem quando nos batemos com os diferentes. Qual a graça em ficar rodeado por pessoas que são iguais a nós, que fazem as mesmas coisas e se vestem de modo igual?

"Os Intocáveis" é um filme francês, que mostra a história de um homem rico, austero, que fica tetraplégico e precisa de alguém para fazer absolutamente tudo pra ele - um cuidador. Que bom q arranjou alguém que fez inclusive com que pensasse e agisse de modo diferente na vida... Tenho certeza que vão perceber que parece ainda mais feliz que antes, mesmo paraplégico... Phillipe (ator Omar Sy) é um negão da periferia, que faz com que o ricaço perceba que boa parte dos nossos movimentos na vida dependem da cabeça... Ligar para a mulher que ama e marcar um encontro, andar de janelas abertas no carro ouvindo uma música legal (aliás a trilha sonora é um destaque a parte - ícones de meus tempos de menina alegram as cenas, com Earth, Wind and Fire e Cool and the Gang - baixei tudo quando cheguei em casa e prolonguei minha diversão).

Já "A Beira do Caminho" é um filme nacional que fala do encontro de um homem caminhoneiro amargurado por erros que cometeu na vida e dos quais nunca se perdoou, com um garoto órfão, cuja mãe morreu e que sai em busca do pai, que supostamente vive em SP. O garoto (Duda) deve ter uns 8 anos e fugiu do abrigo. O caminhoneiro, João (o maravilhoso ator João Miguel), tem muita resistência ao menino, apesar de ter cedido a dar a carona, mas criança é sempre um ser a parte... Às vezes é até difícil de acreditar que somos da mesma espécie... Em alguns momentos do filme eles se repetiam, com muita angústia: "Nós somos uns fudidos!". E eram mesmo. A diferença é q as crianças têm esperança. No pior dos cenários. Os adultos, às vezes até com um horizonte belo, não enxergam e esperam por algo impossível, como por um alguém que vai chegar, um emprego, uma promoção, para ver alguma ponta de felicidade. O menino (como todas as crianças que eu conheço) brincava e era feliz com garrafas PET, banho de rio, boleia de caminhão, discos de Roberto Carlos. O destaque são as frases de efeito que apareciam nas placas de caminhões na estrada e algumas que foram ditas pelo menino:
"Não existe dor pior que a de saudade" - dita por Duda
"Pra quem não tem nada, metade é o dobro"
"Quando a saudade não cabe no peito, ela brota pelos olhos"

Excelentes opções de lazer, para uma semana em que talvez precisemos de esperança para ver se os representantes escolhidos hj façam, de fato, alguma coisa que nos faça voltar a sonhar...

Bjos for all,

Ade

domingo, 26 de agosto de 2012

Beginners


Numa tarde de domingo como essa, surgiu mais uma inspiração para escrever...
Pra ser bem honesta o clarão se abriu e escreveria quase sobre qq coisa. Mas o filme foi bem interessante. Diferente. Ultimamente só assim me interessam... Begginers, de Mike Mills, de 2010. Tradução em português bem boa para "Toda forma de Amor".
Um resumo da história (que não prejudica quem não viu): um rapaz de 37 anos revê (ou vê agora) sua vida através de flashbacks de sua vida qdo criança, através do relacionamento (morno) dos pais e principalmente através dos últimos anos de vida de seu pai (Hal), que resolveu assumir-se gay aos 75 anos, após morte da mulher com quem foi casado por 45 anos. Infelizmente junto a isso Hal descobre q tem câncer e vive apenas mais 4 anos. E Oliver (o filho) desses últimos anos conhece Anna, uma mulher q mexe com ele (ou seria tudo isso q mexe com ele?).

O filme é triste. Não pq Hal seja trsite. Hal é bem feliz. Feliz por ter vivido com aquela mulher, feliz pq consegue ser gay e arranjar um namorado mais jovem aos 75 anos. E enxerga o câncer de forma natural. Em determinado momento do filme está dando uma festa e Oliver (esse sim o sad), o questiona: "Não acha q está exagerando? Vc está com câncer estágio 4. Isso é grave. Não existe o estágio 5". Hal responde: "Não enxergo assim. Entendo que já passei por 3 fases antes. Estou me sentindo bem." Nos últimos meses de sua vida de sua vida Hal namora, frequenta bares e boates, compra livros e flores. Comprar livros e flores... Não devíamos fazer isso agora mesmo????

O filme tem uma montagem interessante, com muita projeção de figuras, desenhos (que eu amei - uma das que estão aí anexadas ao texto).

E é triste. Uma tristeza de fundo. Daquelas que nos faz lembrar de algo. De alguém. De um momento.

Até que um dia, como esse, um clarão se abre e a gente se inspira, escreve, lê e compra flores.

Bjos for all.

Ade



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PUCCA



Ela chegou de forma bem inesperada... Passava por uma feira de filhotes em pracinha do Itaigara quando fui almoçar por ali em um sábado de maio. Eu tenho uma atracão séria por feira de filhotes... Toda vez q vejo - em Pituacu, Vilas ou Itaigara paro e fico olhando os bichos, tentando imaginar q poderia escolher um deles... Mas só olho, brinco com alguns e vou embora, com algumas fantasias. Minha mãe nunca permitiu q eu tivesse um bicho - tenho a impressão q todas as mães sao assim... Agora q fiquei um pouco grande e tenho autonomia, escolhi ter uma gata uns 5 anos atras - Zahra, e vivo imaginando q poderia ter um cachorro, outro gato, um papagaio etc. Pois bem, nesse dia, resolvi pegar um gato para minha mãe. Ela andava meio triste, solitária e imaginei q a companhia de um gato bebê poderia servir de companhia, distração etc. Escolhi o gato em uma cesta onde existiam vários outros - quis esse, cinza escuro, o menor de todos, estava sentado encolhido. A responsável pela feira, de uma ONG q cuida de animais abandonados, ABPA (http://www.abpabahia.org.br/), pegou, olhou "as partes" e me disse: "É uma menina!". E eu pensei: de novo? Mas não tive duvidas q queria aquela. Só aquela. Fui em Pet Shop q ficava em frente e comprei um kit completo para compor o presente. Liguei para minha mãe, disse q tinha um presente surpresa e q estava indo lá entregar. Cheguei e quando viu ficou com a cara meio amarela... Eu percebi q tinha feito besteira mas confiava no meu taco - ela ia se apaixonar, seriam grandes companheiras e minha mae teria muitas alegrias.

Na 1a semana minha mãe ligou mais de 10 vezes... Ela veio com defeito de fabrica - não fazia nem xixi nem cocô na areia... A casa estava suja, ela tinha um "pó" que soltava na almofada em que dormia etc etc etc etc etc e etc. Fiquei chateada com a falência do plano. BEM chateada fui lá um dia de noite buscá-la. Ia levar pra minha casa. Isso obviamente não era um problema em si, me chateava a falência do plano, a falta de paciência de minha mae em tentar um pouco mais.

Pucca chegou lá em casa com muita alegria. Com características típica de uma gato, procurava pelos espaços, brincava com tapetes, cortinas e fiapos. Tinha um miado abafado e parecia ter um resfriado. Característica diferente de um gato (pelo menos se comparer com Zahra) é q sempre adorou um colo. Miava, miava até ficar no colo - daí ronronava* infinitamente. Depois de horas no colo (enquanto eu lia algo ou usava o computador), colocava ela no chão e ela voltava a miar, como se dissesse: Já??? Quero mais!!!! E andava atrás da gente sem parar, como se fosse cachorro. Gato não é esquisito, egoísta, só faz o que quer?

*Pausa da tecla Sap: quem nunca teve um gato não sabe o q é ronronar. Os gatos quando estão felizes, gostam da gente etc fazem um barulho misturado com tremor no corpo, que traduz um prazer intenso. Acho q seria como um orgasmo nos humanos.

Voltando: com o passar do tempo deu uma piorada no que parecia gripe. Associou uma conjuntivite. Resolvi levar no veterinário. O diagnostico inicial é que devia se tratar de uma infecção das vias aéreas, conjuntivite bacteriana e uma leve desnutricao, q devia ser resultado dos tempos pré adocao. Saí de lá com uma prescricão enorme. Comprei tudo e ela melhorou 100%. Depois surgiu uma micose, que fez cair parte dos pelos. Introduzimos anti-fúngicos, mas eu preferi interna-lá para uma vigilância mais de perto - podia contaminar o outro gato ou alguém em casa. Foram 30 dias, nos quais eu a visitava 2 a 3 vezes na semana. Meus intervalos de almoço eram dedicados a isso. Ela me via e miava seu miado diferente e rouco. Ao invés de " miau" era "Ah!!!!!" (igual aquele do Colgate). Corria para grade da gaiolinha q ficava em busca do seu colinho de mãe. Assim eu fazia e ela ronronava... Por alguns minutos... Botava de volta na gaiola e de novo "Ah!!!!". Nessa internação as veterinárias perceberam q ela tinha episódios de febre, o que era estranho uma vez q estava "curada" da infeção respiratoria e estava apenas tratando micose de pele... o tempo passou e fui busca-la. Na entrega a veterinária me chamou com uma cara séria e me disse q não tinha boas notícias. Mas como assim? Os buracos de fungos nos pelos fecharam!!!! Ela está engordando!!! Dobrou de peso!!! Mas a febre era estranha e um hemograma mostrava anemia, o que podia traduzir 3 opções tenebrosas: HIV felino, leucemia ou PIF (peritonite infecciosa felina), essa ultima a pior de todas, pq não tem tratamento e é sempre fatal. Fiquei muda. Neguei. Disse a ela q tinha certeza q não era nada disso. A febre era stress de estar fora de casa, em uma gaiola. A anemia dos tempos em que nao comeu direito nas ruas. Ela ia pra casa e ia ficar tudo bem. Eu tinha uma saudade imensa. Estudar, ler, ver Tv com ela no colo era outra coisa!!! Ela chegou em casa e foi uma alegria generalizada - dela e nossa. Corria alegremente pela casa, pedia o colinho de sempre, batia na porta do quarto querendo passear, roubava a água e a comida de Zahra. A veterinária estava errada!!!! E eu vivia o melhor dos mundos. Quando chegava do trabalho e abria a porta, já ouvia seu gritinho: Ahh!!!

Uma semana se passou. Um grande semana. Éramos felizes, todos com saúde, a família crescia em alegria e harmonia! No final de semana percebi q ela se bateu em um móvel. Devia estar escuro, é claro, se distraiu em suas brincadeiras e se bateu. Mas se bateu de novo, de novo e de novo. Medico é fogo. Resolvi fazer uns testes. Acendi todas as luzes, me mudei de lugar e fiquei quieta. Ela viria sempre atras de mim. Não veio. Perecia ter olhar perdido ao redor, sem entender onde estava ou o que acontecia. Andou em circulos e se perdeu em um canto da casa, sem conseguir sair. E eu quieta para fechar meu diagnostico, em pânico, arrasada... Pucca estava cega. Chorei e chorei, entrei em desespero. Fui ler na internet coisas pq não queria ligar pra veterinária no domingo - talvez não quisesse ouvir verdades naquele momento. E minhas leituras chegaram a uma conclusão quase inexorável: era PIF. Mais uma semana se passou. Ela foi perdendo o passo, com uma incoordenação motora nas pernas q chegou a fazê-la se arrastar. Mas quase sempre querendo ir atras da gente, querendo brincar, querendo colo. Sempre tentando, sempre em busca das coisas q ela gostava. E ronronando. Sempre ronronando. Choramos e choramos ao saber que a coisa evoluía sem que pudéssemos fazer muita coisa.

Nesse momento estou escrevendo esse texto dentro de um avião rumo a ferias em outro país, onde ficarei por 15 dias. Imagino que não a verei mais quando voltar. Deixei aos cuidados das veterinárias. Pedi que não tomassem decisões precipitadas enquanto existisse vida dentro dela. Ela tem muita vida dentro dela, apesar da doença. Vida e doçura. Pucca foi um grande aprendizado em minha vida. Nos momentos mais severos do tratamento, com capsulas "guela" abaixo, termômetro no ânus, higiene profunda dos ouvidos, banhos demorados com anti-fúngicos, onde ela estava com frio, nunca fez um gesto de agressividade, nunca tentou rosnar, nem arranhar. Segundos depois estava ronronando em meus braços, como se soubesse que aquelas coisas eram pro seu bem. E que eram gestos de amor meus. Pucca mudou a minha vida, por entender que podemos sim responder a coisas duras da vida com alegria, doçura e determinação. Obrigada, Pupi, por tudo isso. E nos meus vôos vou te ver dando cambalhotas pelas nuvens. Te amarei sempre. E um dia nos encontraremos para eu te dar mais um colinho e voce ronronar nos meu braços.

Meus mais profundos agradecimentos a pessoas q muito me ajudaram nessa caminhada: Laise, minha mãe, Raimunda, Ara, equipe da Felina veterinária http://www.felinavet.com.br/ (Dras. Mariana e Ilka, Gil, Clelia), ABPA. E acima de tudo, a Deus. Nos momentos possíveis, me deu esperança. Nos fora de meu domínio, resignação, tranqüilidade, reforço da minha fé.

Obs: Pucca faleceu 2 dias após eu ter escrito esse texto. Foi cremada por orientação de minha mãe. Hoje certamente descansa e brinca em um lugar muito bonito.