quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PUCCA



Ela chegou de forma bem inesperada... Passava por uma feira de filhotes em pracinha do Itaigara quando fui almoçar por ali em um sábado de maio. Eu tenho uma atracão séria por feira de filhotes... Toda vez q vejo - em Pituacu, Vilas ou Itaigara paro e fico olhando os bichos, tentando imaginar q poderia escolher um deles... Mas só olho, brinco com alguns e vou embora, com algumas fantasias. Minha mãe nunca permitiu q eu tivesse um bicho - tenho a impressão q todas as mães sao assim... Agora q fiquei um pouco grande e tenho autonomia, escolhi ter uma gata uns 5 anos atras - Zahra, e vivo imaginando q poderia ter um cachorro, outro gato, um papagaio etc. Pois bem, nesse dia, resolvi pegar um gato para minha mãe. Ela andava meio triste, solitária e imaginei q a companhia de um gato bebê poderia servir de companhia, distração etc. Escolhi o gato em uma cesta onde existiam vários outros - quis esse, cinza escuro, o menor de todos, estava sentado encolhido. A responsável pela feira, de uma ONG q cuida de animais abandonados, ABPA (http://www.abpabahia.org.br/), pegou, olhou "as partes" e me disse: "É uma menina!". E eu pensei: de novo? Mas não tive duvidas q queria aquela. Só aquela. Fui em Pet Shop q ficava em frente e comprei um kit completo para compor o presente. Liguei para minha mãe, disse q tinha um presente surpresa e q estava indo lá entregar. Cheguei e quando viu ficou com a cara meio amarela... Eu percebi q tinha feito besteira mas confiava no meu taco - ela ia se apaixonar, seriam grandes companheiras e minha mae teria muitas alegrias.

Na 1a semana minha mãe ligou mais de 10 vezes... Ela veio com defeito de fabrica - não fazia nem xixi nem cocô na areia... A casa estava suja, ela tinha um "pó" que soltava na almofada em que dormia etc etc etc etc etc e etc. Fiquei chateada com a falência do plano. BEM chateada fui lá um dia de noite buscá-la. Ia levar pra minha casa. Isso obviamente não era um problema em si, me chateava a falência do plano, a falta de paciência de minha mae em tentar um pouco mais.

Pucca chegou lá em casa com muita alegria. Com características típica de uma gato, procurava pelos espaços, brincava com tapetes, cortinas e fiapos. Tinha um miado abafado e parecia ter um resfriado. Característica diferente de um gato (pelo menos se comparer com Zahra) é q sempre adorou um colo. Miava, miava até ficar no colo - daí ronronava* infinitamente. Depois de horas no colo (enquanto eu lia algo ou usava o computador), colocava ela no chão e ela voltava a miar, como se dissesse: Já??? Quero mais!!!! E andava atrás da gente sem parar, como se fosse cachorro. Gato não é esquisito, egoísta, só faz o que quer?

*Pausa da tecla Sap: quem nunca teve um gato não sabe o q é ronronar. Os gatos quando estão felizes, gostam da gente etc fazem um barulho misturado com tremor no corpo, que traduz um prazer intenso. Acho q seria como um orgasmo nos humanos.

Voltando: com o passar do tempo deu uma piorada no que parecia gripe. Associou uma conjuntivite. Resolvi levar no veterinário. O diagnostico inicial é que devia se tratar de uma infecção das vias aéreas, conjuntivite bacteriana e uma leve desnutricao, q devia ser resultado dos tempos pré adocao. Saí de lá com uma prescricão enorme. Comprei tudo e ela melhorou 100%. Depois surgiu uma micose, que fez cair parte dos pelos. Introduzimos anti-fúngicos, mas eu preferi interna-lá para uma vigilância mais de perto - podia contaminar o outro gato ou alguém em casa. Foram 30 dias, nos quais eu a visitava 2 a 3 vezes na semana. Meus intervalos de almoço eram dedicados a isso. Ela me via e miava seu miado diferente e rouco. Ao invés de " miau" era "Ah!!!!!" (igual aquele do Colgate). Corria para grade da gaiolinha q ficava em busca do seu colinho de mãe. Assim eu fazia e ela ronronava... Por alguns minutos... Botava de volta na gaiola e de novo "Ah!!!!". Nessa internação as veterinárias perceberam q ela tinha episódios de febre, o que era estranho uma vez q estava "curada" da infeção respiratoria e estava apenas tratando micose de pele... o tempo passou e fui busca-la. Na entrega a veterinária me chamou com uma cara séria e me disse q não tinha boas notícias. Mas como assim? Os buracos de fungos nos pelos fecharam!!!! Ela está engordando!!! Dobrou de peso!!! Mas a febre era estranha e um hemograma mostrava anemia, o que podia traduzir 3 opções tenebrosas: HIV felino, leucemia ou PIF (peritonite infecciosa felina), essa ultima a pior de todas, pq não tem tratamento e é sempre fatal. Fiquei muda. Neguei. Disse a ela q tinha certeza q não era nada disso. A febre era stress de estar fora de casa, em uma gaiola. A anemia dos tempos em que nao comeu direito nas ruas. Ela ia pra casa e ia ficar tudo bem. Eu tinha uma saudade imensa. Estudar, ler, ver Tv com ela no colo era outra coisa!!! Ela chegou em casa e foi uma alegria generalizada - dela e nossa. Corria alegremente pela casa, pedia o colinho de sempre, batia na porta do quarto querendo passear, roubava a água e a comida de Zahra. A veterinária estava errada!!!! E eu vivia o melhor dos mundos. Quando chegava do trabalho e abria a porta, já ouvia seu gritinho: Ahh!!!

Uma semana se passou. Um grande semana. Éramos felizes, todos com saúde, a família crescia em alegria e harmonia! No final de semana percebi q ela se bateu em um móvel. Devia estar escuro, é claro, se distraiu em suas brincadeiras e se bateu. Mas se bateu de novo, de novo e de novo. Medico é fogo. Resolvi fazer uns testes. Acendi todas as luzes, me mudei de lugar e fiquei quieta. Ela viria sempre atras de mim. Não veio. Perecia ter olhar perdido ao redor, sem entender onde estava ou o que acontecia. Andou em circulos e se perdeu em um canto da casa, sem conseguir sair. E eu quieta para fechar meu diagnostico, em pânico, arrasada... Pucca estava cega. Chorei e chorei, entrei em desespero. Fui ler na internet coisas pq não queria ligar pra veterinária no domingo - talvez não quisesse ouvir verdades naquele momento. E minhas leituras chegaram a uma conclusão quase inexorável: era PIF. Mais uma semana se passou. Ela foi perdendo o passo, com uma incoordenação motora nas pernas q chegou a fazê-la se arrastar. Mas quase sempre querendo ir atras da gente, querendo brincar, querendo colo. Sempre tentando, sempre em busca das coisas q ela gostava. E ronronando. Sempre ronronando. Choramos e choramos ao saber que a coisa evoluía sem que pudéssemos fazer muita coisa.

Nesse momento estou escrevendo esse texto dentro de um avião rumo a ferias em outro país, onde ficarei por 15 dias. Imagino que não a verei mais quando voltar. Deixei aos cuidados das veterinárias. Pedi que não tomassem decisões precipitadas enquanto existisse vida dentro dela. Ela tem muita vida dentro dela, apesar da doença. Vida e doçura. Pucca foi um grande aprendizado em minha vida. Nos momentos mais severos do tratamento, com capsulas "guela" abaixo, termômetro no ânus, higiene profunda dos ouvidos, banhos demorados com anti-fúngicos, onde ela estava com frio, nunca fez um gesto de agressividade, nunca tentou rosnar, nem arranhar. Segundos depois estava ronronando em meus braços, como se soubesse que aquelas coisas eram pro seu bem. E que eram gestos de amor meus. Pucca mudou a minha vida, por entender que podemos sim responder a coisas duras da vida com alegria, doçura e determinação. Obrigada, Pupi, por tudo isso. E nos meus vôos vou te ver dando cambalhotas pelas nuvens. Te amarei sempre. E um dia nos encontraremos para eu te dar mais um colinho e voce ronronar nos meu braços.

Meus mais profundos agradecimentos a pessoas q muito me ajudaram nessa caminhada: Laise, minha mãe, Raimunda, Ara, equipe da Felina veterinária http://www.felinavet.com.br/ (Dras. Mariana e Ilka, Gil, Clelia), ABPA. E acima de tudo, a Deus. Nos momentos possíveis, me deu esperança. Nos fora de meu domínio, resignação, tranqüilidade, reforço da minha fé.

Obs: Pucca faleceu 2 dias após eu ter escrito esse texto. Foi cremada por orientação de minha mãe. Hoje certamente descansa e brinca em um lugar muito bonito.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

NÃO É O DINHEIRO!!!




Eu nem sabia que o Nizan era colunista da Folha... Recebi de um amigo, achei muito interessante e resolvi compartilhar.

Enjoy!! bjos for all,

Ade


NIZAN GUANAES

Não é o dinheiro, estúpido


Não paute sua vida pelo dinheiro: seja fascinado pelo realizar e o dinheiro virá como consequência


SOU, COM FREQUÊNCIA, chamado a fazer palestras para turmas de formandos. Orgulha-me poder orientar jovens em seus primeiros passos profissionais.
Há uma palestra que alguns podem conhecer já pela web, mas queria compartilhar seus fundamentos com os leitores da coluna.
Sempre digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio.
Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade, você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin apertando parafusos numa planta industrial do século passado.
É preciso, antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o coração.
Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência.
Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.
E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma.
A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho".
Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.
Era muito difícil viver numa nação onde a maioria morria de fome e a minoria morria de medo. Hoje o país oferece oportunidades a todos.
A estabilidade econômica e a democracia mostraram o óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso único caminho. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.
É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque já li livros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito chato!).
Colabore com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.
Tenho consciência de que cada homem foi feito para fazer história.
Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não dê férias para os seus pés.
Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: "Eu não disse? Eu sabia!".
Toda família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que faria, apenas se fizesse alguma coisa.
Chega dos poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.
Só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama "sucesso".
Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.
Tão importante quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo, virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino, global.
Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para ele. O que você tem a dizer para o mundo?


NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.