quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Eis um novo post... um post de ano novo. E achei vagabundeando pela internet. Coisa que não fazia há um tempo. Justamente por falta dele. Hoje foi meu 1o dia de folga real no ano e chutei o balde nos pseudo-compromissos e estou curtindo minha folga de pernas pro ar, lendo variedades, criando pensamentos sortidos. E descobri um Blog "vizinho" maravilhoso, que desconfio que vcs vão me abandonar em breve para recorrer a ele, no intuito de ler algo legal. Vou correr o risco mesmo... Chama-se Crônica do Dia ( http://crondia.blogspot.com). São "Crônicas diárias dos novos cronistas do Brasil". Já virei seguidora. E a "fonte" que me conduziu ao Blog recomendava o Eduardo Loureiro Jr. Me identifiquei quando a "fonte" dizia q lia o Eduardo e Rubem Alves e que ambos a faziam sorrir e chorar em instantes. Claro q tinha de buscar esse tal de Eduardo, né? O cara é Cearense e tem crônicas muito legais de fato. Escolhi uma das que li para postar aqui para vcs. Pq claro q me identifiquei. E me fez super bem no dia de hj. Em q resolvi vagabundear. Fazer um dia MEIA-BOCA. Sem nenhum grande compromisso, plano ou pensamento. Estou adorando meu dia meia-boca. Espero q vcs tb adorem a leitura half-mouth abaixo do inteiro e já listado para minhas futuras leituras!! Welcome, Eduardo!


Bjos for all,
Ade


MEIA-BOCA >> Eduardo Loureiro Jr.



"Pelejar pelo exato dá erro contra a gente."

(João Guimarães Rosa)

Tem gente que só quer do bom e do melhor. Para mim, o bom já está bom; só quero do melhor se não der muito trabalho.

Querer ser o melhor — e ter o melhor — normalmente necessita de um esforço que não vale a pena que o próprio esforço criou. A dor é um bom limite. Se está doendo, então já está perto da hora de parar: a partir daquele ponto, um aumento do esforço não vai melhorar muito o resultado.

Sabe aquelas coisas de "vou atravessar a cidade para comer AQUELE bolinho de bacalhau, o melhor do mundo"? Ué, mas se tem um bolinho de bacalhau bom já ali na esquina, por que pegar carro, ônibus, táxi? Sai mais em conta caminhar até o bolinho mais próximo. Em matéria de culinária, não tenho muitas papas na língua. Sou incapaz, por exemplo, de identificar coentro numa comida: e tem gente que detesta coentro, quer lamber o tridente do diabo mas não trisca a língua em coentro. É a turma que quer o melhor, que quer o perfeito, para quem tudo deve ser daquele jeitinho ideal.

Ideal é um bom nome para padarias — Padaria Ideal, o seu paõzinho perfeito — mas, no dia-a-dia, eu prefiro o real. E o real quase nunca é perfeito, está mesmo longe de ser o melhor. Tem gente que compra o mais barato, tem gente que só paga pelo melhor. Eu escolho o mais-ou-menos, o meia-boca, o morno que muita gente vomita.

Praticamente nada do que faço recebeu ou receberá o adjetivo superlativo de bom: o melhor está fora de minhas pretensões. Meus textos — esta crônica, por exemplo —, minhas músicas, minhas aulas, minhas análises de mapa astral, qualquer tarefa que eu desempenhe — de desentupir uma pia a fazer turismo numa nova cidade — traz sempre a marca do "se já 'tá bom, 'tá bom".

Entre a dona Qualidade e a dona Quantidade, fico com as duas — mas não sacrifico a segunda pela primeira. O tempo e a paciência perdidos na tentativa de fazer do bom o melhor poderiam ser empregados em outras coisas. Em vez de gastar o juízo para compor a canção perfeita, faço logo umas dez seguidas e, com sorte, algumas delas ficam bonitas. Não sou um daqueles para quem a busca da perfeição leva à perfeição. O que me aproxima da perfeição é a prática constante e fiel do erro.

E se há mesmo que se fazer o esforço, é bom que se produza muito. Eu que não vou botar óleo numa panela — e depois ter o gordurento trabalho de lavá-la — só pra comer uma cuiazinha de pipoca. Se é pra fazer pipoca, que a espagueteira fique cheia delas. Espagueteira, sim. Só usa pipoqueira quem quer a melhor pipoca, o que, vocês sabem, não é o meu caso.

A única coisa que fica perfeita com o esforço concentrado é o estresse. O que tem de gente perfeitamente estressada é uma beleza. E como é que se saboreia o perfeito bolinho de bacalhau ou a perfeita pipoca quando se está perfeitamente tenso? E como é que se admira a perfeita canção ou o perfeito texto quando se está perfeitamente exausto? Não sei a resposta, nunca fiquei perfeitamente estressado, não faz parte da minha realidade. Para mim, de estresse já basta o ruim, não quero saber do pior.

Essa história de olho clínico, de ouvido absoluto e de paladar sensível no mais das vezes só atrapalha. Não é coisa de mestre nem de gênio. Não é chique, é chato. Porque tem hora que as pessoas que querem o melhor começam a querer o seu — o meu — melhor. E aí é um tal de "faz isso assim", "você devia fazer assado", "o potencial você já tem, basta se dedicar um pouco mais"...

Já foi-se o tempo em que eu era cu-de-ferro, o primeiro da classe. Hoje em dia, gazeio aula para jogar porrinha no pátio e fico contente se passar por média. Que os outros pelejem pelo exato. Eu prefiro passear pelo descabido.

Um comentário:

  1. Ade,
    Gosto de textos polêmicos!! Remexem coisas em mim.
    Adorei a sugestão do Eduardo, a citaçao do Guimarães e principalmente do seu exemplo de "bancar" um dia de folga!! Afinal é difícil se entregar ao ócio.
    Parabéns!!
    Bjs,
    Lai

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